Tuesday, August 15, 2006

Wiki–ti–vi!

Passarinho voa. Isso talvez seja o que mais me atrai nessa história. Eu gosto de coisas que voam. Mesmo pequeno o ser voante ocupa o espaço. Diferente das arvores; pois já dizia o poeta as árvores são grandes mas ocupam pouco espaço. O contrário vale prum bando de maritaca voando em algazarra. Mesmo pequenas ocupam o topo de um gigantesco jatobá.

As aves migram. Isso talvez seja o que mais me atrai nessa história. Eu gosto de coisas que surgem e somem com o tempo, como o sol na janela do quarto de outono, como o broto na amoreira em junho, a flor do ipê, da quaresmeira, as águas de março ou as andorinhas que não fazem verão. O vai e volta das aves de arribação.

A gente não voa, a gente não migra. Após o fracasso de Ícaro, sem asas, nos contentamos em voar no pensamento. Quer dizer, o ideal era determinar que pra ser ornitólogo ou observador de aves o sujeito teria que saltar de para-quedas, ao menos uma vez na vida. Pra ter noção do perigo.

Isso posto, resta o problema: Como registrar e acompanhar o movimentos das aves, tão pequenas num espaço tão grande? A ciência oferece diversas abordagens matemáticas e métodos estatísticos sofisticadas. Os mais organizados fazem todo registro em uma simples caderneta. Sim, mas e nós pobres mortais, como contribuir? Como fazer um trabalho sistemático de maneira caótica e sem perder a diversão?

File Info: EXIF – Metadados

Em primeiro lugar fazer registro de dia e hora em que a ave foi observada. Eu nunca consegui fazer isso com papel e lápis, mas com uma câmara digital isso fica muito mais fácil. Veja por exemplo como o photoshop resgata os dados da câmara e registra até a lente e a velocidade usada. Se a cam. tivesse integrada com o GPS teríamos até essa informação disponível.


EXIF é um padrão de arquivos de imagens usado pelas camaras digitais
metadados são um conjunto de informação sobre o arquivo que acompanham a foto desde seu surgimento.

Observe o uso que o wikipédia faz do metadados:
Alí está anotado a data, hora, velocidade e tudo mais, e sem gastar papel e lápis.

Voando por aí!

Desnecessário dizer que a internet nos dá asas. Isso 10 anos atrás a AO já dizia nas palavras de Roberto Brandão em Internet para Ornitólogos. Roberto Brandão Cavalcanti - Brasília - DF – ATUALIDADES ORNITOLÓGICAS n.69 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 1996 - pág 8


Mas como usar a web para organizar e difundir nosso registros, fotos e sons? O primeiro passo é categorizar e organizar os dados. Normalmente os sites já oferecem as categorias, de forma a padronizar os dados, como faz o xeno-canto.org – site colaborativo especializado em sons de aves neotropicais.

Posteriormente a informação recuperada e possibilita cruzamentos e filtragens. Mais importante do que isso é que diversas pessoas podem comparar as fotos e registros de uma mesma espécie. Veja aqui como foi registrada a Athene cunicularia no site www.aves.brasil.nom.br atualmente o mais completo banco colaborativo de fotos de aves do Brasil, com centenas de espécies documentadas.


Wiki-ti-vi !

Mas como seria um modelo de banco de dados colaborativo capaz de abarcar o universo de informação referente a observação de aves?

Partimos de uma lista de todas espécies existentes no Brasil, cada espécie com suas características, hábitos e distribuição. Essa lista é administrada por um conselho científico e se sub-divide em listas regionais de cada estado/região. Indexada por essa lista, cria-se uma grande base de dados dividida em categorias de midia e.g., fotos, videos, sons e avistamentos. Isso possibilita que colaboradores de diferentes partes do Brasil depositem seus registros e dados. A qualidade da identificação é assegurada por um conselho que cadastra novos usuários e certifica todo novo registro. Além disso toda informação é geo-referenciada, com coordenadas GPS e uma base única de localidades (IBGE), possibilitando a visão global oferecida por exemplo pelo www.geobusca.com.br.

Na outra ponta, essa base de dados pode ser acessada por diferentes "usuários" permitindo, por exemplo, que um garoto do RS mantenha seus registros organizados e que uma pousada do pantanal gerencie sua lista de espécies on-line ou ainda que um clube de observadores de GO monitore a chegada das andorinhas do próximo verão. Cada um enxerga a base de dados de uma maneira personalizada, com seus gráficos, fontes e logos, se sente em casa.


Nem tudo são flores.

Direito autoral é sempre um problema, mas isso pode ser bem equacionado se usarmos conceitos novos em direito autoral, como copyleft ou creative commons, que permitem formas mais abertas de gerenciar e compartilhar informação. Sempre de acordo com o interesse dos autores/colaboradores.

Taxonomia
A indexação de categorias taxonômicas pode se tornar um desafio se, por exemplo, uma espécie tiver seu gênero ou família modificada ou subdividida. Isso cria um belo problema em uma estrutura hierárquica de dados. Mas essa hipótese deve ser contemplada no projeto e a "lista oficial" deve prever a atualização automática das listas dependentes. Uma iniciativa correlata e de muito maior abrangência iniciou-se com a divulgação do Zoobank

Nomes populares e sinonímia

Só para complicar algumas espécies chegam a ter mais de 50 nomes populares diferentes e outros tantos sinônimos latinos. Mas essa profusão de nomes pouco ajuda na identificação das espécies, ao contrário de alguns nomes de aves em inglês que chegam a ser, por si só, uma "chave sistemática de identificação".

Um site colaborativo não deveria padronizar um único nome popular, pelo contrário. Mas deve enfrentar o desafio de criar uma denominação funcional comum para as aves brasileiras. Não para substituir nomes populares, não para perder nossa identidade cultural, mas para verbalizar as características de cada ave e assim facilitar a identificação, o conhecimento, identidade e conservação. Objetivo final dessa papagaiada toda.
Matéria publicada originalmente na Atualidades Ornitológicas

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